Buenos Aires – Maior obra de arquitetura funerária moderna já construída, o Sexto Panteão do Cemitério da Chacarita, na capital argentina, volta ao centro das atenções com o lançamento do livro “Chacarita Moderna: a necrópole brutalista de Buenos Aires”, de Léa Namer. A edição bilíngue espanhol/inglês chega ao mercado em junho de 2025, sucedendo a versão francesa/inglês já apoiada pela Graham Foundation.
Projeto subterrâneo de 1949
Concebido em 1949 pela arquiteta Ítala Fulvia Villa, o panteão subterrâneo tem dois níveis e capacidade para 150 mil nichos. O desenho reinterpretou as catacumbas romanas sob uma ótica moderna, incorporando elevadores para visitantes, monta-cargas para caixões e uma estética brutalista de grandes proporções.
Resposta à falta de espaço
A construção surgiu em meio à pressão demográfica e à escassez de áreas para sepultamento em Buenos Aires. A solução subterrânea foi vista como alternativa duradoura e eficiente para enterros em massa, especialmente destinados à classe média. À época da inauguração, o local figurava entre os espaços mais valorizados da cidade para funerais.
Arquitetura moderna aplicada ao rito funerário
Com 95 hectares, o Cemitério da Chacarita é o maior cemitério público de Buenos Aires e recebe figuras populares, como o cantor Carlos Gardel. O Sexto Panteão integra esse complexo, destacando-se como um dos raros exemplos de aplicação ambiciosa da arquitetura moderna ao ambiente funerário na América Latina.
Visibilidade tardia da arquiteta
Ítala Fulvia Villa dedicou quase toda a carreira ao setor público, não fundou escritório próprio e não assinava projetos em nome individual, o que limitou seu reconhecimento histórico. Mesmo assim, liderou uma equipe multidisciplinar que incluía o então jovem arquiteto Clorindo Testa. A descoberta de seu protagonismo ocorreu décadas depois, quando Léa Namer encontrou uma reportagem de 1961 na revista Nuestra Arquitectura.
Imagem: Cortesia de Léa Namer
Atual estado de conservação
Embora ainda em operação, o panteão enfrenta esvaziamento progressivo, falta de manutenção e mudanças nas práticas funerárias. O livro de Namer busca resgatar a importância histórica e arquitetônica da obra, além de destacar o papel de Villa na modernização dos espaços públicos argentinos.
O Sexto Panteão permanece como testemunho de uma época de grandes obras públicas e de confiança no progresso, quando a participação de uma mulher em projetos de grande escala ainda era rara.
Com informações de Casa Vogue
