West Sussex (Reino Unido) – Pouco conhecida fora dos círculos da arte, a Monkton House se consolidou como a única residência surrealista do Reino Unido após receber intervenções diretas de Salvador Dalí na década de 1930. Originalmente erguido entre 1902 e 1903 pelo arquiteto Edwin Lutyens para o empresário William Dodge James, o imóvel campestre ganhou nova vida quando o herdeiro Edward James, mecenas do movimento surrealista, decidiu remodelá-lo.
Transformação guiada pelo surrealismo
Insatisfeito com o estilo rural concebido por Lutyens, Edward James convocou os arquitetos Christopher Nicholson e Hugh Casson para conduzir a reforma sob a orientação pessoal de Dalí. O resultado foi uma fachada revestida de estuque roxo, porta principal cor-de-rosa, colunas que imitam palmeiras e ralos moldados como bambus. Cortinas de gesso surgiram nas janelas, enquanto cada uma das três chaminés passou a exibir formato singular.
Interior repleto de obras singulares
Dentro da casa, James instalou mobiliário e arte surrealista em cada ambiente. Entre os destaques estavam dois sofás em forma de lábios inspirados na atriz Mae West, uma pintura onírica de Paul Delvaux, uma cadeira de Dalí com braços humanos erguidos e uma cama baseada na carruagem fúnebre de Napoleão. O banheiro, todo em alabastro translúcido, recebia projeções elétricas do sol e da lua crescente. Apesar de propostas ainda mais ousadas – como paredes que se moveriam “como o estômago de um cachorro” – algumas ideias de Dalí acabaram vetadas pelo proprietário.
Reconhecimento e disputa pela propriedade
Em 1987, o historiador Clive Aslet classificou Monkton House como “o melhor interior de sua época que sobreviveu no país”, durante uma disputa judicial que definiu o destino do imóvel. Após a morte de Edward James, sua fundação colocou a casa à venda para financiar a expansão de uma escola de artes. A organização English Heritage chegou a manifestar interesse, mas o prédio acabou adquirido por um comprador privado.
Imagem: Ty Evans
Situação atual
O novo dono removeu todo o acervo interno, preservando apenas a fachada característica. Sem acesso público e possivelmente alterada por reformas posteriores, a residência permanece escondida em uma propriedade de 2.400 hectares em West Sussex. Restam registros fotográficos que documentam a engenhosidade de Dalí e o papel de Edward James na criação dessa obra única do surrealismo aplicado à arquitetura.
Com informações de Casa Vogue
