Profissionais de arquitetura e design indicam três direções principais para os interiores de 2026: personalização maximalista, integração tecnológica quase imperceptível e expansão do uso de materiais sustentáveis, biobaseados ou biofabricados.
Casas mais expressivas e afetivas
A consultora sênior da WGSN Mindset, Monica Levandoski, afirma que o período 2025-2027 deve registrar crescimento do maximalismo, do artesanato e de elementos nostálgicos. Segundo ela, o movimento denominado “Reset Sensorial” valoriza texturas, tecidos variados e materiais naturais para despertar os sentidos e reforçar a identidade dos moradores.
O arquiteto e professor universitário Alexandre Salles, do Estúdio Tarimba, chama a tendência de “lar com identidade”. Ele observa que, em meio a cenários instáveis, as pessoas buscam refúgio em ambientes biográficos, que contem histórias e adotem referências locais. “As pessoas querem sentir que vivem em uma casa com narrativa, não em um catálogo”, resume.
Para o arquiteto brasileiro Guto Requena, o Brasil oferece terreno fértil ao maximalismo graças à forte tradição artesanal. “A casa brasileira mistura cores, texturas e memórias”, comenta. Já a coordenadora de Design do IED São Paulo, Graziela Nivoloni, destaca a valorização dos saberes manuais, que agora dialogam com tecnologias de produção.
No universo digital, o relatório Pinterest Predicts 2026 identifica três vertentes alinhadas ao tema: afrodecor (ancestralidade e materiais naturais), casa lúdica (cores e estampas) e neo déco (vintage e maximalismo).
Tecnologia silenciosa
A presença da tecnologia nos lares deve tornar-se mais discreta. Salles chama o fenômeno de “tecnologia silenciosa”, enquanto Requena prefere o termo “tecnologia ubíqua” – dispositivos e sistemas integrados à arquitetura de forma quase invisível. A expectativa, segundo Levandoski, é que a inteligência artificial atue como facilitadora, fornecendo personalização, eficiência, sustentabilidade e autonomia sem exigir programação constante dos usuários.
Na esfera acadêmica, Nivoloni relata que a IA já acelera etapas de criação e aprendizagem, permitindo maior dedicação ao trabalho manual, ao mesmo tempo em que institui debates sobre limites e responsabilidade no ensino de arquitetura e design.
Materiais de baixo carbono
A terceira tendência reforça a adoção de insumos sustentáveis. Nivoloni explica a diferença entre materiais biobaseados (originados de componentes orgânicos) e biofabricados (produzidos a partir de microrganismos, micélio ou bactérias). Experimentos com fibras de algas e cascas de ovo já fazem parte dos projetos dos alunos do IED-SP.
Imagem: André Klotz
Requena afirma que todas as decisões de seu escritório hoje são guiadas pela descarbonização. Entre os trabalhos, o Edifício Terra foi concebido como “floresta vertical” e valoriza produção local. O arquiteto também pesquisa impressão 3D com matérias-primas biobaseadas.
No mercado de luxo, a estilista Stella McCartney produz acessórios em couro vegetal derivado do resíduo da uva usada no vinho. A designer espanhola Patricia Urquiola apresentou na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2025 uma instalação em cimento especial composto por aglomerantes hidráulicos, vidro reciclado, espirulina e resíduos naturais da lagoa veneziana.
Para Salles, controlar a cadeia produtiva por meio desses novos compostos garante rastreabilidade e reduz impacto ambiental. “Não dá mais para gerar projetos sem responsabilidade socioambiental”, afirma o arquiteto.
As três macrotendências – identidade afetiva, tecnologia invisível e materialidade sustentável – devem orientar projetos residenciais e de interiores a partir de 2026, segundo especialistas ouvidos.
Com informações de Casa Vogue
