Campinas (SP) – Fechada para obras desde o início de 2024, a Casa do Sol, onde a escritora Hilda Hilst (1930-2004) viveu e trabalhou por quatro décadas, voltou a receber visitantes no fim de agosto. O imóvel de 1964 passou por um restauro que consumiu R$ 2 milhões captados pela política municipal de Transferência do Direito de Construir (TDC).
Projeto conservou estrutura original
Com cerca de 700 m² erguidos em um terreno de mais de 10 mil m², a construção foi concebida pela autora para servir de refúgio literário nos arredores de Campinas. Segundo a arquiteta Mariana Falqueiro, da Tapera Arquitetura e Patrimônio Cultural, todo o trabalho priorizou intervenção mínima: portas, janelas, pátio interno, volumetria e piso cerâmico foram mantidos. Já a infraestrutura elétrica e hidráulica, os forros coloniais tipo “saia-e-camisa” e o telhado foram renovados.
Muros que limitavam a visibilidade do jardim foram removidos. Na área externa, trilhas acessíveis foram abertas e aproximadamente 500 árvores catalogadas, podadas e tratadas.
Edícula virou espaço multiúso
Os antigos canis — resultado do apreço de Hilst por cães, que já abrigou mais de 100 animais — deram lugar a uma edícula reconfigurada. O anexo recebeu cozinha, suíte acessível, bar para eventos e varandas construídas com tijolos reaproveitados das próprias ruínas. A intervenção contou com R$ 500 mil do Programa de Ação Cultural (ProAC) do governo paulista.
Instituto amplia atividades culturais
Sede do Instituto Hilda Hilst desde a morte da escritora, em 2004, a casa foi tombada como patrimônio histórico de Campinas em 2014. O presidente da entidade, Daniel Fuentes, afirma que a modernização permite expandir residências artísticas e eventos, como a feira literária “Hilstianas”, agendada para ocorrer trimestralmente.
Digitalização do acervo
Em paralelo, todo o acervo particular da autora — 3 mil livros, 1,2 mil fotografias, 1,5 mil documentos e objetos pessoais — está em processo de digitalização, coordenado pelo bibliotecário Antonio Neto. O material será disponibilizado gratuitamente on-line.

Imagem: Gui Gomes
Pesquisa sobre a construção
A arqueóloga e historiadora Angélica Moreira, da Terceira Página Consultoria, analisa 44 amostras de tijolos recolhidos durante a obra. Vinte e quatro peças apresentam inscrições diversas; 11 delas integrarão uma “tijoloteca” descrita em catálogo digital previsto para janeiro de 2026.
Com a reabertura, a Casa do Sol retoma a proposta original de Hilda Hilst: funcionar como espaço vivo de produção artística e preservação de sua memória literária.
Com informações de Casa Vogue