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Bibliotecas e livrarias se reinventam para manter o livro físico vivo na era digital

No início dos anos 2000, o avanço dos scanners do Google Book Search — lançado em 2004 e hoje chamado Google Livros — alimentou o receio de que o papel se tornaria obsoleto. Duas décadas depois, mesmo com a possibilidade de produzir trabalhos acadêmicos com apoio de inteligência artificial, o exemplar impresso segue firme. Arquitetos, livreiros e especialistas apontam que a permanência do livro depende da criação de novos usos para bibliotecas, livrarias e estantes domésticas.

Bibliotecas ampliam funções

Para o arquiteto Rodrigo Mindlin Loeb, que projetou a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin ao lado de Eduardo de Almeida no campus da USP, o livro representa “ancestralidade viva” e dificilmente desaparecerá. Mas os espaços que o abrigam tiveram de se adaptar. Nas últimas duas décadas, instituições de referência incorporaram acervos digitais, áreas de convivência e programação cultural intensa.

Exemplo disso é a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, que passou a oferecer palestras, oficinas, exposições e apresentações artísticas. A mudança atende a uma tendência já prevista pelo arquiteto Guto Requena em seu trabalho de conclusão de curso, em 2003, quando sugeriu transformar o edifício num centro multimídia inspirado na Midiateca de Sendai (Japão), inaugurada em 2001 por Toyo Ito.

Projetos clássicos, como a Biblioteca de Exeter (Estados Unidos), assinada por Louis Kahn em 1971, continuam a servir de referência para áreas silenciosas dedicadas ao estudo. Já construções recentes, a exemplo da Biblioteca de Pequim (2023) e da Bibliotheca Alexandrina (2002), ambas do escritório norueguês Snøhetta, mostram caminhos distintos: da atmosfera monumental à proposta de espaço comunitário vibrante e integrado à paisagem.

Livrarias de rua ganham fôlego

O fechamento de grandes cadeias e o crescimento do e-commerce abriram espaço para o ressurgimento de lojas independentes. O arquiteto Marcio Kogan, do Studio MK27, frequenta endereços como Megafauna e Gato sem Rabo, na capital paulista, e afirma que a compra online não substitui o prazer de folhear livros e descobrir novidades nas prateleiras.

A arquiteta Bel Lobo, responsável por unidades da Livraria da Travessa, aposta em ambientes confortáveis, com poltronas, mesas baixas e cafés integrados. Segundo ela, a disposição informal dos títulos e a curadoria apurada ajudam a fidelizar o público.

Entre as lojas especializadas, destacam-se a Gato sem Rabo, voltada a autoras mulheres; a Aigo, dedicada a escritores imigrantes; a Kitabu, focada em literatura negra; e a Livraria Eiffel, no térreo do edifício homônimo projetado por Oscar Niemeyer e Carlos Lemos em 1952, onde o advogado Leo Wojdyslawski comercializa obras de arquitetura.

Leitura entra na decoração doméstica

O retorno do livro como objeto de desejo fez crescer a demanda por estantes nas residências. “Quase todos os nossos projetos hoje incluem uma biblioteca”, conta Marcio Kogan, que costuma integrar grandes prateleiras ao living. Guto Requena também observa o volume maior de publicações nos espaços sociais das casas, muitas vezes acompanhado de poltrona junto à janela e iluminação de apoio.

Desafios de tempo e atenção

Apesar dos ambientes favoráveis, encontrar tempo para ler continua sendo o maior obstáculo. A cobrança por produtividade e a distração provocada pelos smartphones competem com a concentração necessária, observa Rodrigo Loeb. Mesmo assim, especialistas veem na manutenção de bibliotecas, livrarias e cantos de leitura uma estratégia essencial para que o livro físico atravesse a era digital.

Com informações de Casa Vogue

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