A 30ª Conferência das Partes (COP30) reúne, até 21 de novembro, especialistas de dezenas de países em Belém, no Pará, com atenção especial à influência da arquitetura e do urbanismo na crise climática. A relação entre planejamento urbano, construção civil e metas globais de redução de emissões permeia diversos debates do encontro, iniciado na segunda-feira, 10 de novembro.
Temas prioritários na conferência
Nos primeiros dias, painéis abordaram adaptação, cidades, infraestrutura, água, resíduos e governos locais. Nos próximos, entram em cena governança, justiça social, energias renováveis, novos materiais, biodiversidade, turismo e mobilidade. Todos esses tópicos impactam diretamente projetos arquitetônicos e o desenho das cidades.
Para a presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), Patrícia Sarquis Herden, “é nas cidades que os efeitos das enchentes e das ilhas de calor se tornam mais visíveis — e é nelas que surgem as soluções”. Ela destaca que o futuro urbano será decisivo para o sucesso das metas de neutralidade de carbono.
Participação de profissionais e estandes
Pela primeira vez, o CAU monta um estande em uma COP. O espaço exibe pesquisas, projetos e discussões sobre uso eficiente de energia e gestão hídrica. O professor José Júlio Ferreira Lima, da Universidade Federal do Pará, recomenda atenção a essas iniciativas: “Muitos estandes tratam de questões sociais e tecnológicas ligadas à otimização energética”.
Soluções de pequeno e grande porte
O arquiteto paraense Luis Guedes defende a adoção de tijolos ecológicos, biomateriais e insumos locais para reduzir emissões no transporte de materiais. Guedes ressalta ainda o aprendizado com arquiteturas tradicionais da Amazônia, como casas de madeira adaptadas ao bioclima regional.
Exemplos práticos de atuação da categoria já apareceram em emergências recentes, lembra Patrícia. Nas enchentes do Rio Grande do Sul, em 2024, arquitetos emitiram laudos para orientar famílias sobre retorno às moradias, dentro da Assistência Técnica de Interesse Público (ATIP). A mesma metodologia está em estudo para Rio Bonito de Iguaçu (PR), atingida por tornado em 7 de novembro.
Imagem: Getty s
Expectativa de legado
Para o arquiteto e vereador paulistano Nabil Bonduki, a COP30 precisa garantir prioridade e recursos a projetos urbanos alinhados à transição climática. “Ainda se faz muito pouco; na prática, o poder público mantém um modelo insustentável”, afirma.
Já o professor José Júlio avalia que a primeira edição da conferência em território amazônico ajudará a expor a realidade de cidades da região, que sofrem impactos climáticos mesmo sem os altos níveis de consumo das grandes metrópoles. “O que está em jogo é uma forma de morar existente há muito tempo na Amazônia e agora ameaçada pela redução da floresta”, diz.
As discussões seguem em Belém até 21 de novembro, quando será divulgado o balanço final das propostas e dos compromissos assumidos pelos participantes.
Com informações de Casa Vogue
