A autorização concedida pelo Ibama para que a Petrobras abra um poço exploratório em águas profundas na Foz do Rio Amazonas voltou a colocar em evidência os limites ambientais da política energética brasileira. O economista ambiental Alessandro Azzoni afirma que, mesmo tratando-se de um teste geológico, a operação carrega “potencial de risco para uma catástrofe ambiental”.
O poço ficará no bloco FZA-M-059, onde será utilizado o navio-sonda ODN-II. A licença, emitida após mais de cinco anos de análise, libera somente a fase exploratória, programada para durar cinco meses com o objetivo de verificar a presença de petróleo e gás em escala comercial.
Riscos apontados
Segundo Azzoni, a perfuração em águas profundas exige tecnologias avançadas, mas não elimina a possibilidade de vazamentos de óleo ou outros contaminantes. “Mesmo pequenas quantidades podem atingir os recifes de corais recém-descobertos e afetar toda a cadeia alimentar e pesqueira local”, alertou.
O especialista lembra que a estatal possui um histórico de mais de 3 mil multas aplicadas pelo Ibama na última década, totalizando centenas de milhões de reais. Para ele, esse passivo deveria impor exigências adicionais ao processo de licenciamento. “Planos de contingência reduzem, mas não anulam o risco operacional”, disse.
Pressão política e ambiental
A decisão acontece a poucas semanas da COP30, prevista para 2025 em Belém (PA). Azzoni considera que a liberação confronta o discurso oficial de liderança climática. “O país pode ser cobrado nos fóruns internacionais justamente quando deveria fortalecer o compromisso com a redução de combustíveis fósseis”, avaliou.
Entidades ambientais e movimentos sociais anunciaram que recorrerão à Justiça contra a licença, classificando a medida como retrocesso nas metas climáticas.

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Posicionamento da estatal
Em nota, a Petrobras declarou ter atendido a todas as exigências do órgão licenciador e garantiu que seguirá “os mais altos padrões internacionais de segurança e responsabilidade ambiental”.
No entendimento de Azzoni, contudo, o histórico de infrações e a sensibilidade ecológica da área tornam incerto o objetivo de alcançar impacto ambiental zero. “Por isso a exploração está cercada de tantas controvérsias”, concluiu.
Com informações de LeoDias